11/26/2022

Qual conceito é o certo? Todos.

Abaixo damos exemplos com conceitos do BDSM (bondage, dominação, sadomasoquismo), mas as duas formas de abordar a linguagem e os conceitos se aplicam a qualquer tema da afetossexualidade ou outros fora dela. 

Um fundamento para entender as diferentes formas de conceituar, uma que exclui, a outra que inclui, neste post sobre um dos pares de aspectos da realidade.


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Os diversos tipos de fetiches - como dominação e submissão, senhora e escravo - podem ser discutidos de formas diferentes. Às vezes se discute o quanto dois deles são parecidos - como submisso e escravo - e quais características os diferenciam. Ou então, se certa prática, ou determinado comportamento, se encaixa no conceito 1 ou no conceito 2.


Exemplo: Maria, ajoelhou-se perante Antônio e cuidadosamente retirou seus sapatos. Maria agiu como uma submissa ou como uma escrava?

Essas discussões podem ser feitas de duas formas fundamentais, sendo uma mais produtiva, e a outra menos.

A primeira forma é a abordagem do encaixotar.

Nesta, cada conceito é percebido como uma caixa (dominantes, submissos, senhores, escravos) e a pessoa, comportamento ou situação real são colocados em uma das caixas, e se não couberem são amassados, cortados e empurrados para dentro de uma das caixas assim mesmo. Infinitas discussões nascem dessa abordagem e normalmente nós usamos muita energia nas disputas para decidir quem, encaixota o que, e onde. Energia essa que poderia ser melhor utilizada criando conexões e buscando mais prazer na vida.

A segunda forma é a abordagem dos ingredientes.

Aqui nós consideramos cada fragmento da realidade - seja uma pessoa, uma prática, uma sensação etc. - como uma panela na qual vamos preparar uma receita, ou seja, na qual nós adicionamos os ingredientes para preparar aquela refeição singular. 

Alguns ingredientes são adicionados, muitos não. Alguns apenas uma pitada, um poucos em grande quantidade, todos numa certa ordem e por uma certa razão (se se trata de um bom cozinheiro). Aqui, uma pessoa pode ter muito de dominante, um pouco de submisso, pouco de senhor, e muito de escravo, porque cada coisa é uma coisa, e cada uma na sua medida é como a realidade funciona.

A quantidade de cada ingrediente conceitual em certa situação prática pode ser também simbolizada por um dimmer, que regula o quanto há de cada ingrediente, de nada a tudo. Assim, uma relação não é sexual ou assexual, mas pode ser de sexual a pouco sexual, a médio sexual, a muito sexual, a totalmente sexual. Um cena pode ser totalmente baunilha ou totalmente fetichista.  E assim por diante.

Assim, no BDSM como na vida, temos uma grande variedade de ingredientes que estão presentes, são experimentados e combinados em cada pessoa.

Na primeira abordagem nos lutamos num mundo abstrato de escassez, onde apenas uma ideia funciona como a caixa conceitual a ser utilizada, e todos os outros aspectos devem ser descartados, desprezando-se assim as singularidades de cada realidade e de cada vida, comportamento, desejo.

Na segunda abordagem nós nos aproveitamos da abundância, beleza e liberdade de tratar cada fato a ser compreendido como único, numa experiência pessoal singular de amor e prazer, dependendo essa receita da fome, criatividade e paladar de cada um.

Qual conceito é o certo? Todos.

Abaixo damos exemplos com conceitos do BDSM (bondage, dominação, sadomasoquismo), mas as duas formas de abordar a linguagem e os conceitos s...